Yawo
- William Mesquita
- 18 de nov.
- 3 min de leitura
Vou falar com a voz que aprendi dos mais velhos, com o sopro das folhas sagradas e com o silêncio que Osanyin guarda no fundo da mata. Que estas palavras encontrem teu coração como o vento encontra a copa das árvores: devagar, mas transformando tudo.
Ser Yawo — Elegun — é renascer.
Não é apenas vestir o branco, ajoelhar diante do axé ou aprender os preceitos. É morrer para um mundo antigo e despertar para um caminho onde cada passo é guiado por ancestrais que te observam, te corrigem e te levantam. A iniciação não é um ritual qualquer: é um parto espiritual. O Ori se abre, o corpo se torna morada do Orixá, e a alma aprende a respirar de novo.
Quando um Yawo nasce, ele nasce pequeno — não importa sua idade, sua história, sua força. Pequeno porque está aprendendo a linguagem da mata, o movimento dos ventos, a vibração das águas, o fogo que acende a coragem e a terra que sustenta o destino. Ser Elegun é ser ponte: o Orixá pisa firme em teus ombros, e tu és a estrada por onde Ele caminha entre o mundo visível e o invisível.
Na iniciação, os ancestrais se reaproximam.
Não somente os de sangue, mas os de axé — os que abriram caminhos, os que seguraram a casa nos tempos difíceis, os que enfrentaram a tempestade para que hoje pudéssemos cantar com liberdade. Cada folha que cai no teu ori, cada palavra do mais velho, cada silêncio no roncó é um ensinamento que vem de longe. A ancestralidade não é passado: é presença. Ela sopra no teu ouvido quando o caminho confunde, ela te sustenta quando o mundo pesa.
Conectar-se à natureza não é poesia — é fundamento.
O Elegun aprende que as folhas têm nome, têm dono e têm segredo. Aprende que a mata escuta, que a água fala, que o vento ensina e que o fogo purifica. Aprende que nenhuma cura vem sem respeito, e que todo conhecimento só frutifica quando plantado com humildade. Osanyin nos mostra que é preciso se curvar para colher. Que é preciso silêncio para ouvir o que é sutil.
E assim, filho, filha, a vida do Yawo começa a tomar outro rumo.
Porque o que o Orixá te entrega não é só obrigação — é direção.
A iniciação traz disciplina, coragem, ética, responsabilidade. Traz o entendimento de que cada escolha molda teu destino, e que cada gesto teu carrega o axé de quem te fez. O Elegun aprende a caminhar com mais consciência, porque sabe que não anda sozinho: leva o Orixá à frente, leva o ancestral atrás, leva a comunidade ao redor.
E há um momento — sempre há — em que o Yawo percebe que foi chamado não apenas para cultuar, mas para viver o axé.
Para ser cura onde houver dor.
Para ser firmeza onde houver dúvida.
Para ser força onde houver queda.
Para ser ponte entre mundos, entre pessoas, entre tempos.
Ser Yawo é carregar um renascimento que não termina no último dia do ciclo, mas que se renova a cada amanhecer. É saber que teu ori, agora consagrado, é bússola moral. Que tua vida é oferenda. E que tua caminhada é também parte da caminhada de toda a família de Àṣẹ que te acolheu.
Que Osanyin sopre sabedoria sobre tuas folhas. Que teu Orixá ilumine teus passos. E que teus ancestrais te lembrem sempre: Tu és filho do axé — e filho do axé jamais anda só.
Baba William t’ Osanyin



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